NotíciasBrasilCaso Luighi: A Conmebol banaliza o racismo?

Caso Luighi: A Conmebol banaliza o racismo?

O jogador do Palmeiras foi alvo de racismo em jogo da Libertadores Sub-20

| Autor: Lucca Anthony

Foto: Reprodução/TV Globo

Na sociedade atual, o racismo não deve ter espaço e deve ser combatido de forma incansável. No entanto, situações de discriminação por cor ou raça ainda existem e são constantes até hoje. Recentemente, o jogador do sub-20 do Palmeiras, Luighi, passou por uma triste experiência enquanto fazia o que ama. Durante uma partida contra o Cerro Porteño, pela Libertadores Sub-20, Luighi e seus companheiros venciam o time paraguaio por 3 a 0, até que, ao ser substituído, o atacante foi alvo de gestos racistas por parte de um torcedor, que, pasmem, estava com seu filho no colo. Após o fim da partida, ao conceder a entrevista pós-jogo, Luighi questionou: até quando isso vai acontecer?

Cabe ao principal órgão responsável do futebol sul-americano tomar uma atitude, mas a Conmebol falhou em agir adequadamente. Como punição ao clube paraguaio, a Conmebol pediu apenas uma nota de repúdio, uma pequena multa de 50 mil dólares e a imposição de portões fechados por três jogos.

A ENTIDADE ACHA O RACISMO UMA COISA NORMAL?:

Segundo o colunista Danilo Lavieri do UOL, o caso Luighi só reforça que a Conmebol acha o racismo uma coisa normal.

"É inacreditável que eles tenham soltado uma notinha de repúdio e depois terem punido o Cerro Porteño, que é reincidente, apenas com portões fechados [na Libertadores sub-20] e uma multa. É um negócio absurdo", afirmou o colunista.

Ele também aponta a falta de punições mais severas. "A FIFA se pronunciou contra, a CBF pediu expulsão do Cerro na competição, o Palmeiras acionou advogados para os transmites legais, porém a Conmebol soltou uma simples punição protocolar".

Para manter a ordem e o espírito esportivo, cada competição possui seu regulamento e regras, e dentro desses regulamentos, há punições para quem descumprir as normas. No caso da Conmebol, a prática de racismo é punida com uma multa de 50 mil dólares. No entanto, essa multa, quando comparada a outras, é revoltante. Por exemplo, se torcedores de determinado clube acenderem um sinalizador em uma competição da entidade, o clube precisará pagar 70 mil dólares. E se um time atrasar para entrar em campo no segundo tempo, a multa chega a 100 mil dólares.

É preocupante que um problema tão supérfluo, como o atraso para o segundo tempo, seja considerado 'mais caro' do que situações de discriminação. A Conmebol não é injusta ao afirmar que nada é feito, já que realiza campanhas de conscientização em suas competições, como placas escritas em espanhol com a mensagem "Basta de racismo" e algumas ações em suas redes sociais. No entanto, campanhas e notas de repúdio não são suficientes.

REVOLTA EM RELAÇÃO A ATITUDES:

O caso do jovem Luighi não é o primeiro, nem será o último, a acontecer no mundo. Para acabar com o racismo, é necessário um trabalho árduo para mudar algo que já está profundamente enraizado na sociedade. O valor da multa paga pelos paraguaios não será destinado ao apoio das vítimas ou a projetos de combate à discriminação; ao contrário, o dinheiro cairá diretamente na conta bancária da Conmebol. Querendo ou não, a entidade lucra com esses acontecimentos, e isso pode ser uma das razões pelas quais não se movem de forma mais rigorosa.

Em uma entrevista, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, levantou uma questão importante: por que a CBF, juntamente com os clubes brasileiros, não se desassociaria da entidade sul-americana, considerando que são os clubes e jogadores do Brasil que mais sofrem discriminação em jogos no exterior?

SOCIEDADE RACISTA E FALTA DE AUTO-CONHECIMENTO:

Os países da América do Sul nasceram da miscigenação entre nativos e europeus. Nós, brasileiros, somos uma sociedade extremamente miscigenada e somos conscientes disso. No entanto, países como Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai se consideram "pedaços da Europa" aqui na América. Em 2021, o então presidente da Argentina afirmou: "Os mexicanos vieram dos indígenas, os brasileiros da selva e nós chegamos em barcos que vinham da Europa". Esse tipo de pensamento desconexo da história sul-americana reflete a falta de conhecimento sobre a própria história desses países, alimentando a falsa sensação de "superioridade". Além disso, gera a impressão de que esses países são intocáveis, já que não há consequências sérias para o racismo praticado.

É por causa dessa mentalidade que, entre todos os males humanos, o preconceito contra os semelhantes ainda existe e atingiu o jovem Luighi, assim como milhares de outros jovens. Para acabar com o racismo, não basta apenas não ser racista, é preciso lutar ativamente contra essa prática, mesmo quando ela não nos atinge diretamente. Portanto, a falta de posicionamento da Conmebol, que deveria proteger todos os envolvidos, apenas prejudica sua imagem e levanta preocupações sobre até quando o preconceito continuará presente na sociedade.

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